quinta-feira, 1 de novembro de 2007

Hemorragia

O amor acaba. Assim foi e assim será.
O amor encolhe, anoréxico, suicida-se de melancolia;
Acaba num átimo, de infarto "tão jovem", dirão, ou aos poucos, pingando, em lenta e imperceptível hemorrgia, pálido, o amor;
Morre de velhice, de obesidade, de preguiça;
O amor desaparece, no fundo de qualquer gaveta, entre cartas de amor e contas;
O amor embolora, cria fungos, amarela;
Acaba entre um sorriso e um soluço, no meio do filme, no cinema , num dia de comemoração;
Acaba no papel de chocolate metido no bolso ou jogado no chão do quarto;
"Acaba no mesmo colo de sempre", na cama, num gozo, num cafuné estéril;
Cade o amor que estava aqui? O gato comeu? O ladrão roubou?...era vidro e se quebrou?
O amor acaba em abraços e ofensas, o amor acaba com ódio, acaba mesmo é com o amor;
Acaba sozinho, culpado e acaba acompanhado, triste;
Esquece-se o amor, como a tarde em que morremos de rir, como a cidade em que já estivemos e já não mais está dentro de nós;
Mas onde mesmo foi parar o amor? O amor não escolhe o momento de terminar, vai-se embora no susto de um olhar interrompido, no primeiro ônibus da manhã, é soterrado por uma pilha de livros, vai embora como a borra do café...
O amor, a vida, o sorriso, a mágoa, a culpa, o perdão, o ódio, a tristeza, enfim, tudo escorre e jorra como uma torneira aberta dentro de nós.